Toda vez que passamos por alguma adversidade ou sofrimento temos a
tendência de dizer que somos vítimas do Carma. Outro dia, por exemplo,
alguém reclamou que a vida era um desastre: nada dava certo. Tudo que
tentava fazer não conseguia realizar. No final da conversa, concluiu:
"Sabe de uma coisa, meu amigo? O meu carma é pesado demais!"...
Mas, o que é Carma? E por que atribuímos a ele os nossos erros?
A
primeira coisa que devemos fazer é compreender o que é Carma. A palavra
vem de karman, "ação" em sânscrito, antigo idioma dos indianos, que
define uma correspondência em que recebemos de volta tudo de bom ou de
ruim que proporcionamos aos outros. Também conhecida como a lei da causa
e efeito, ela determina aquelas experiências pelas quais todos nós
teremos de passar, independente de querer ou não. A qualidade dos nossos
gestos condiciona não só as nossas vidas, mas também as existências
futuras. Por isso, o Carma está ligado à teoria da reencarnação.
A
convicção do Carma permeia o Hinduísmo, religião surgida na Índia há
2000 mil anos, e do Budismo, cerca de 500 anos mais tarde. As duas
religiões defendem que a alma passa de corpo em corpo, num ciclo
contínuo de nascimento-morte-renascimento - que se denomina Samsara -
até que, livres dos testes e das provações, encontram-se com o divino.
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O
Espiritismo, doutrina fundada por Allan Kardec no século XIX, também
afirma que os seres humanos são espíritos reencarnados a caminho da
evolução. O Cristianismo rejeita a reencarnação, mas defende que pagamos
pelas conseqüências dos maus atos nesta vida - segundo sua tradução da
lei de causa e efeito. Para aqueles que não acreditam em outra
existência, fica difícil aceitar qualquer argumento ou explicação
milenar - como se não bastassem as responsabilidades desta vida. Mas
será que ao nascer viemos com alguma missão neste mundo?
Compreensão e auto-análise
São baseadas nessa contextualização
(que o Carma é uma missão que o universo coloca sobre nossos ombros) que
muitas pessoas acabam se utilizando da palavra "carma" como desculpa
para os seus erros e insucessos. Muitos psicanalistas afirmam que a
aplicação desse termo se deve a uma paralisação interna que se dá pelo
receio de serem julgadas durante o processo de crescimento. Essas
pessoas acabam por preferir nada fazer para não arriscar errar e se
tornam adeptas de um imobilismo, que quando não impede, dificulta
bastante o progresso. São exatamente esses indivíduos que tendem a dizer
(e repetir) que são vítimas de um "carma", de um "mal de família", que
as arrastaria para o fracasso. Insistem na alegação de serem vítimas das
circunstâncias ou vítimas de uma sociedade perversa que conspirou
ferozmente contra si. Não é raro, acreditarem que algum inimigo seja
capaz de reproduzir magias para afastá-las da felicidade e das amizades.
Soma-se a isso a aproximação de um falso interlocutor do além, de um
embusteiro espiritual que confirme essa possibilidade através de uma
consulta... e a tragédia está completa!
Infelizmente sou obrigado
a chamar esses embusteiros de médiuns oportunistas - se bem que nem
todos são capazes de estabelecer o caos e se aproveitar da fragilidade
psicológica do consulente. Não obstante, todos sabem muito bem do que
estou falando. A Verdadeira Magia caminha lado a lado com a
interpretação dos fatos, pois a maioria das pessoas que procuram ajuda
espiritual, através de uma consulta espiritual, tende a fazer as mesmas
perguntas:
Por que tudo dá errado em minha vida?
Por que não consigo um trabalho à altura de minha capacidade intelectual?
Por que não consigo encontrar alguém que respeite e valorize o amor verdadeiro?
A
primeira coisa que devemos reconhecer que há ocasiões - e acontece com
todos nós - em que nos vemos envolvidos num clima de "coitadinhos" e nos
queixamos de que as coisas continuam estagnadas. É natural lamentarmos a
má sorte, condenarmos a si mesmos por não estarmos à altura das nossas
expectativas. Entretanto, os argumentos que algumas pessoas dão às
perguntas supracitadas são basicamente as mesmas: "Sou assim porque vim
de uma família pobre"; "Não consegui realização profissional porque
nunca tive uma oportunidade na vida". "Os meus pais nunca me deram a
atenção que eu precisava na juventude". "Todos são falsos!". Mas quantas
pessoas nasceram em uma família pobre e conseguiram vencer suas
dificuldades? Quantas pessoas conseguiram um lugar no mercado apenas por
demonstrarem sua competência profissional? Quantas pessoas no mundo
buscam a sinceridade e o amor e encontram? O que podemos fazer quando
essas emoções destrutivas tomam conta de nós?
Primeiro, tomar consciência de que a "autopiedade" é o resultado de nos
compararmos com as outras pessoas ou com qualquer padrão social que
julgamos modelo de perfeição - que deveríamos ter alcançado e não
conseguimos. O que se deve fazer nessas ocasiões é lançar um novo olhar
sobre as circunstâncias da nossa vida. Pense sobre sua própria vida e
tente enumerar quais os fatores que a limitam. É falta de iniciativa?
Falta de engajamento? Falta de vontade?
Para cada história que
propuser ouvir sobre as pessoas próximas, você encontrará centenas de
exemplos de superação e adequação. Tente ouvi-las e medite sobre isso.
Quando analisamos o nosso progresso com honestidade e comparando nossa
atuação passada com nossas atuais condições, conseguimos uma melhor
perspectiva dos passos que já demos. Vendo o nosso crescimento, podemos
suportar as frustrações, porque superamos as desilusões anteriores.
Lembre-se
que não são os fatores externos que limitam a vida de uma pessoa. O
único fator limitador para as nossas vidas é o nosso pensamento. Quando
pensamos de forma limitada e negativa reduzimos a possibilidade de
recriar o mundo.
Ao repensar os nossos erros a primeira reação é
culpar o próximo: o ego nos faz sentir importantes e, conseqüentemente a
principal vitima dos outros. Lembre-se: o ressentimento é um sentimento
de resistência e de uma não-aceitação de um fato que não aconteceu -
como o fato de não ter nascido numa família rica ou conseguido amar
alguém especial. Esses são exemplos folclóricos de "carma" - ou de
situações que não se adequaram às suas expectativas. Quando esse tipo de
ressentimento se transforma em hábito, fatalmente se transforma em
autopiedade.
É muito importante não esquecer que, enquanto
cultivarmos qualquer tipo de ressentimento, seja social ou familiar,
nunca seremos totalmente independentes, livres e felizes. Terminaremos
repassando o controle da nossa vida para outra pessoa, circunstâncias ou
para um evento - nesse caso o Carma.
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